28 de dez. de 2006

despedida

A vida tá me ensinando como me despedir. Antes despedidas eram só dor, muita revolta. Agora eu sinto essa melancolia tão mansa e deixo o peito doer até um certo ponto - pois percebo que se eu deixar a dor ocupar todo o espaço, não tem espaço pra crescer o NOVO.
O novo é imprevisível e mais duro é quando me despeço de algo que estava tão bom, que era tão importante, de que eu na verdade não queria me despedir. Mas a vida tem movimentos próprios e é besteira ficar lutando contra.
Percebo como eu me despeço aos poucos. Vejo como essa percepção da interrupção da história se dá de pouquinho em pouquinho - naquela hora, no meio do dia, onde aquele pequeno gesto cotidiano se encaixava tão bem. Um abraço aqui, um café com uma conversa ali, um bilhetinho anotado, uma confidência, uma cebola refogada na panela, uma música. hábitos que sei que vão desbotar, que eu não consigo ainda aceitar que desbotem - mas vou me levando em banho maria porque sei que o novo deve vir. E apego não deixa ar pra respirar - nem ar pra mim mesma, nem ar pra quem eu gosto mesmo estando longe.
A lágrima que escorre é só pra não deixar o peito apertado, mas eu deixo ela secar.

26 de dez. de 2006

brasileira

nunca tinha lido esse darcy ribeiro. um amigo comentou sobre o livro "o povo brasileiro" e decidi ler. se é que a arte nasce da angústia, tô indo no caminho certo... ler esse livro está transformando meus olhos e remexendo tudo aqui dentro. caraca, que vontade de nos descobrirmos brasileiros. não eu só, mas eu junto com muitos. que vontade de ser parte de uma força crescente. e que luta insana parece ser. vou transcrever umas partes...
sobre os primórdios do processo civilizatório no Brasil... ( como tudo acaba desembocando pra onde estamos hoje...)
" Cá o barroco de gentes ibéricas, mestiçadas, que se mesclavam com os índios, não lhes reconhecendo direitos que não fosse o de se multiplicarem em mais braços, postos a seus serviços. (...)
Aqui, nenhuma terra se disperdiça com o povo que ia se gerando. De toda ela se apropria a classe dominante, menos para uso, porque é demasiada demais, mas a fim de obrigar os gentios (nativos considerados hereges) subjugados a trabalhar em terra alheia. (...) Roma lhes sacramenta a possessão dos novos mundos com a condição de que progridam (...) na conversão dos novos infiéis descobertos. As classes dirigentes tendem a definir-se como agentes da civilização ocidental e cristã, se considerando prudentes e pios. O colono se enriquecia e os trabalhadores se salvavam para a vida eterna (!) Nenhuma ideologia foi tão convincente para quem exercia a hegemonia nem tão inelutável para quem a sofria.
(Aqui) ... o que se engendra é uma elite de senhores de terra e de mandantes civis e militares, montados sobre a massa de uma subumanidade oprimida, a que não se reconhece nenhum direito.
DESPOJADOS DE SUA ALMA... através da conversão que invadia e avassalava sua própria consciência. "
Nossa própria consciência tão minada.. primeiro tão convertida, e HOJE TÃO SEDUZIDA
AAAAAAAAAAAHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

30 de nov. de 2006

CIFRADO...
Vocês me fazem sonhar. Obrigada por hoje. Falar e ouvir, dentro do nosso círculo, me faz sonhar com uma possibilidade de surgir algo novo que não sei o nome, um tipo de relação onde indivíduo e coletividade não precisem ser pólos opostos e alternantes.
Meus desconfortos não precisam ser ignorados. Seus desconfortos são por mim acolhidos. Tento compreender um pouco mais. Preciso, precisamos crescer.
Sua luz brilha. Minha luz é chamada a brilhar. Temos que andar.
Minha cidade ideal seria a partir desse círculo de hoje.
Agora a música invade meu raciocínio. Espero que haja contaminação melódica. Pseudo intelecto com bateria prestes a pifar... que pife, pelo amor de deus. e que haja contágio.

25 de nov. de 2006

Uma banana de manhã e um pão francês puro lá pela uma da tarde. Nada mais até a noite. Circunstâncias tantas entre desorganização e coisas por fazer... Não me reconhecia! Minha vigilância, minha tolerância e minha concentração ficaram bem alteradas...
Até que ponto eu sou o que sou graças ao conforto que tenho? E até que ponto eu sei proporcionar esse conforto a mim mesma - quanto eu delego aos outros...? O quanto eu pude construir a partir dessa base? O quanto eu omiti através do mesmo conforto - incômodos postergados, apego a garantia de pequenos prazeres mascarando a percepção da realidade? Já havia pensado nisso, mas nesse dia posso dizer que foi uma espécie de "reflexão corporal".
Plenitude gástrica e capacidade de raciocínio e lógica...
"Repletude" gástrica e obnubilação cognitiva, intelectual...
Foco de atenção - pras próprias vísceras, pra além de si...
Quando eu era criança:
de manhã antes de ir a escola, uma xícara de café com leite e um pãozinho com margarina; no recreio, suco de uva e bolo ana maria; de noite sopa de letrinhas com mais pãozinho. A xícara era azul com uma rachadura, o leite sempre tinha nata, a garrafa de suco vedava mal e sempre vazava um pouco de suco na lancheira, durante o almoço eu via desenho animado, a noite jantava com meu pai, e o bolo de aniversário sempre era de brigadeiro. Momentos de referência, segurança de estar inserida numa rotina, segurança da repetição. Conforto.
Hoje:
eu ando pelas ruas, parando vez ou outra para pequenas ineficazes distrações. Porvir.

17 de nov. de 2006

Tão futil... tola. quero ouvir assim pelo telefone: "beijo, te amo". quero calor. quero quero quero...
daí, estou andando acompanhada SOZINHA, porque esse não é alguém que diz "beijo, te amo" pelo telefone.
mas eu tô enganchada - me perco de qualquer música ao me agarrar ridiculamente à partitura.
daí, dias e dias sem ouvir nem ver direito, a não ser minhas idéias que se disfarçam de realidade.
Ao despedir-me, decepcionada (como tantas vezes ultimamente), me encaminho para o trajeto ordinário e olho o fim do dia, contemplativa. Contemplo, então, combinações de luzes de cores que inesperadamente me convidam pra sair do trajeto. Caminho sozinha entrando por ruas que nunca vi, intuindo que sigo na direção certa. Daí que a fachada das casas, o movimento das pessoas fechando as portas do comércio, a menina passeando com a cachorro, o cara bebendo ceveja, a barbearia cheia de velhinhos me chamam de novo "ei! conjugue no presente" . Caminho, sozinha ACOMPANHADA de mim mesma, parece que retorno pra mim mesma - ando, ando, ando.
ESTAR PRESENTE - presença auspiciosa, com cada célula de mim pulsando, ao falar, andar, rir, chorar.
Nossa, parece que tem dias que desaprendo de fazer companhia pra mim mesma, dissociada de mim.
adoraria destrinchar esse estado, já que me distancia de coisas que amo nessa vida.
pra poder falar, andar, rir, chorar de verdade. COM VOCÊ, COMIGO TAMBÉM.

22 de out. de 2006

passagem

Impressionante como vou do céu ao inferno dentro dum intervalo de minúsculas horas. Miudezas cotidianas, episódios aparentemente inofensivos me fazem ou muito bem ou muito mal, dramaticamente. Ando como num tango.
No meio de tudo, só ficotentando me pegar em diretrizes internas, que estou aprendendo a criar. Dentro de cada lugar, de cada situação, eu tenho que ter um fio guia pra eu tocar em momentos de tormenta.
e percebo como gosto de achar meus referenciais dentro de mim.
Mas também percebo como me distancio de uma vida considerada comum - minhas diretrizes internas estão me levando tão longe daonde eu costumava estar. Daí que muitas tormentas derivam das próprias tentativas de se achar nas tormentas... O que mais temo é perder-me por pesadelos e sonhos passageiros, que de passageiros passem a parecer dominantes e definitivos.
Quero me achar dentro de tudo. Quero me achar dentro de mim, no que sai de dentro de mim.

17 de set. de 2006

Realmente, tenho observado que alguns clichês se aplicam à realidade. Tenho que confessar que a previsibilidade às vezes me incomoda e cansa mas que usei essa mesma previsibilidade a meu favor...
Sempre disse a mim mesma que não jogaria no "amor", mas quer saber? Tô jogando. Note que escrevo entre aspas pois uso o vocábulo de maneira conotativa. Sabe-se lá qual é o significado da palavra quando em questão essa enrolação desgraçada que há entre homem e mulher. Mas o fato é que cansei de jogar limpo. Estou absoltutamente egoísta. Não vai sair nada muito duradouro ou definitivo disso tudo, mas estou descrente - não espero mais nada definitivo ou duradouro...
Descobri que o principal foco de raciocínio no homem-comum é nas partes baixas. Ah, se vocês estão lembrando dos homens extra-ordinários, que têm outros mecanismos de funcionamento, saibam que são espécimes raras.
E acho que se deve aproveitar o que a pessoa tem pra oferecer, não é? Jogo pra conseguir o que quero na hora que quero.
(jogo comigo mesma também... )
E espero cada vez menos.
(de mim mesma também...)

3 de set. de 2006

Reativando o blog após período de auto-saturação - daqueles períodos em que ouvir os próprios pensamentos é penoso (de tão previsíveis...) quanto mais vê-los escritos... Mas aí saquei que blogar é uma boa. A gente escolhe as palavras ali, descarrega uns pensamentos, chega a conclusões, se perde de vez, se diverte consigo mesma, se irrita consigo mesma e coisa e tal.
Bom, o post da campanha de posts temáticos iniciada pelas amigas bloggeiras Fabi Vajman e Gabi Lois:

  1. A coisa que mais gosto na vida (definitivo isso, hein? mas realmente, se eu pudesse era todo dia isso) é entrar debaixo de queda d'água de cachoeira. Quando me sinto absolutamente perdida na vida, perdida de mim mesma, meu primeiro impulso é buscar uma cachoeira....
  2. Em exercícios, performances físicas, dança e coisas desse tipo tenho duas pernas esquerdas e dois braços esquerdos (e não sou canhota). Tenho um sonho bem tosco que ainda não consegui realizar: Dar três cambalhotas seguidas e virar estrela.
  3. Sou viciada em café.
  4. Sou praticamente uma jeca tatu nas artes do amor - sei lá, vai ver que eu preciso fazer um curso intensivo de "como chavecar um cara" - não sei ler sinais, não sei fazer joguinhos, enfim, sou óbvia até o osso. E por extensão, sou pós-graduada em amores paltônicos (patético...).
  5. Sou muquirana. Nossa, eu sou muquirana...
  6. Adoro escrever com cores diferentes. É meio bizarro ler anotações minhas em vermelho, preto, sublinhado com rosa, verde... Resquícios de ginásio?! Meio que tenho vergonha de mostrar minhas anotações...