31 de mar. de 2007

dor tão grande de ser quem eu sou.
dor por não conseguir alcançar, por me segurar.
eu vislumbro. antes não vislumbrasse. meu olhar abarca o que não consigo presentificar. olhar descompassado do presente - o presente só acaba de se desenhar quando já virou passado e o futuro não se desenha com clareza, com lacunas de presente. Continuidade quebrada.
minha vontade não tem casado com meu passo. meu passo é lento, a vontade não.
meu sentir não tem casado com meu gesto. meu sentir alcança, meu gesto fica contido.
no momento em que o mundo estiver prestes a acabar, eu queria estar do seu lado, pra sentir que pelo menos o que valia aqui nesse mundo eu vivi. pra eu poder olhar pra minha existência e saber que eu estive com você. se é que eu tinha algo de importante pra fazer aqui nesse lugar, uma das coisas era me conhecer você.
agora, dói saber que não sou escolhida; que se você precisa da mão de alguém, essa mão não é a minha.
mas
sua presença não pára de transbordar em mim. você está aqui dentro daqui já. tão sobrepujante, que nem um mar você, impossível de ver a totalidade de você de tão vasto, vontade de me perder aí em você.
procurei te negar em mim. me perco em ruídos.
o som nítido que eu consigo ouvir vem através de você. cansei de te negar, aceito as lágrimas. cansei de ruídos, eles não passam pelo meu coração. a nitidez de um som distante dói, mas pelo menos passa pelo coração.

28 de mar. de 2007

pseudoempatia?

voltamos ao básico - o aurélio diz que empatia é: tendência para sentir o que se sentiria caso estivesse na situação e circunstância experimentadas por outrem. Ou seja, um estado em que se experimenta colocar-se no lugar do outro de alguma maneira, penetrando na lógica alheia que guia sentimentos e idéias.
e o que seria a pseudoempatia??
a empatia é um fim em si mesma ou tem alguma finalidade prática?
bom, quem ouve e se coloca no lugar de outrem pode gerar uma relação de cumplicidade e intimidade. acho que fui empática com algumas pessoas na minha vida - a ponto de passar a compreender o que não compreendia antes só por abrir os ouvidos/olhos/poros pra um gesto que a princípio eu não teria, ou a ponto de sentir fisicamente sensações descritas por alguém. e me sentia compartilhando experiências alheias.
agora,
nunca me dei conta do que fiz a partir desses encontros empáticos. utilizei esse ponto de contato para alguma finalidade prática?
tento me explicar a partir de um exemplo: indivíduo 1 e indivíduo 2 trabalham no mesmo lugar em funções diferentes. 1 tem um cargo de planejamento e coordenação, 2 tem um cargo de execução e põe a mão na massa.
2 viveu situação difícil, onde sofreu grande pressão psiocológica, no trabalho. há uma reunião entre várias pessoas que trabalham no lugar, entre elas 1 e 2. todos são chamados a colocar os pontos que julgam relevantes. 2 vai expor sua dificuldade e reinvindicar por uma mudança de estratégia, por uma redistribuição de tarefas para que não sofra sobrecarga. 1 acolhe tudo o que 2 fala e estimula 1 a se abrir, contando inclusive como se SENTE. 1 pergunta várias vezes, de diferentes formas, como 2 se SENTE. 2 expõe sua vulnerabilidade. 1 a ouve e faz gestos de concordância com a cabeça, além de pegar a mão de 2.
1 aparentemente é empático a 2.
2 sente gratidão por ser ouvido.
1 aproveita a cumplicidade que se forma ali e, além de não redistribuir as tarefas, atribui MAIS TAREFAS AINDA para 2.
2 aceita!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
ok, nessa hora você deve estar pensando em como 2 é trouxa, mas eu não conheço 2. conheço 1 e me relaciono com 1. não no trabalho.
outro exemplo: 1 desaparece do contato de 3. não telefona, não escreve email, nem torpedo, nem deixa recado em caixa postal, nem envia sinal de fumaça. 3 liga umas duas vezes sem resposta nenhuma. 3 fica de saco cheio e não procura mais por 1. quinze dias depois, 1 liga pra 3 falando que invadiram sua casa e seu pai foi internado para uma cirurgia no intestino, às pressas. 3 considera a situação vivida por 1, 3 pensa se tivesse vivido a mesma coisa como se sentiria.
mas 3 pensa... pensa...
3 aceita marcar um café com 1. o café não é bebido - 1 desparece e não liga de novo, dessa vez por quase um mês.
depois desse segundo estio, o número de celular de 1 aparece entre as chamadas não atendidas no celular de 3.
3 considera o risco de ser trouxa como 2.
3 tece considerações sobre a pseudoempatia e seus desdobramentos...