13 de mai. de 2007

engano a mim mesma.
bizarro estratagema criado por mim mesma.
repudio essa maldição em que eu mesma me meto.
me escondo nessa mesma maldição.
é como adiantar cinco minutos do relógio pra sair na hora - só funciona se acreditar. olha-se pra hora marcada e acredita-se na hora modificada por si próprio. auto-engano útil.
mas o engano que eu tramo e no qual eu mesma caio não me é útil agora. é verdade que se foi criado é porque teve utilidade em algum momento, mas agora quero me desfazer dele. está me sendo um peso.
não quero mais carregá-lo comigo.
quero ficar leve disto. quero respirar.
por que é difícil?
porque é preciso mudar as rotas.
eu me acostumei com estas rotas, pra deixar de usá-las, preciso usar outras. e quaisquer outras rotas são desconhecidas.
peço força a mim mesma agora pra decidir andar por estas rotas desconhecidas. peço benção a mim mesma, peço permissão a mim mesma. peço coragem a mim mesma.
e quem quiser continuar trilhando por estas rotas que me desgastam tanto, que continue. quem quiser que continue e que me deixe. me deixe.

6 de mai. de 2007

Engraçado como, em certos casos, algumas experiências levam o indivíduo a experimentar o reverso do que era esperado.
Experiências políticas que levam à alienação política, experiências amorosas que levam à solidão voluntária, experiências coletivas que levam ao individualismo, experiências místicas que levam ao ceticismo. Isso pra citar alquimias sombrias, mas há alquimias luminosas também como experiências de sofrimento que levam por caminhos tortuosos a descobrir a amorosidade, experiências de repressão que levam a posturas libertárias.
Conclusões que mudam o rumo num giro de 180 graus. Talvez por achar fragilidades no que antes dávamos por tão certo.
Quanto a experiências místicas que levam ao ceticismo...
Bem, tive uma fase mística. Todo mundo tem a sua, oras. A minha foi junto com um grupo que seguia um guru. Pseudo-misticismo protegido por uma redoma. Como explicar essa redoma? Bem, acho que nossas ações se circunscreviam num espaço muito limitado - como dizer "eu te amo" quando todo mundo tá felizinho de banho tomado, sem conflitos na hora de discriminar os gastos da conta corrente, numa vivência em que se espera que todo mundo fale eu te amo.
Ok, legal, a gente se desacostuma a dizer "eu te amo" no dia a dia, mas é uma panaquice, por sua vez, se acostumar a dizer "eu te amo" só com cheiro de incenso e musiquinha new age.
Passei, então, a amar o prosaico, a ouvir o tal "eu te amo" dito de outras maneiras, muitas vezes sem palavras.
E passei a ficar de bode de vivências com figuras iluminadas que acendem incensos e dizem "eu te amo" com cara de mané.
Pois fui numa dessas ontem. Ai, ai, ai...
A mulher trabalhou com um cara conceituado dentro do teatro e tava marcada um palestra dela. Fui, né?
Cheguei lá ela começou a falar da mãe terra e do pai céu - bicho, na real: eu gosto da mãe terra e do pai céu. Sério. (Ó só: Eu tava esperando o trem outro dia, na estação prefeito saladino, e do lado da plataforma tem umas flores, uns matinhos e grilinho cantando no começo da noite. E eu pensei: cara, se eu ouvisse grilo e sentisse cheiro de mato toda noite, eu seria outra pessoa. É.)
E ela falava pra gente falar love love love e se abraçar. Cara, tinha gente com lágrima nos olhos.
Ai...
Daí eu falei comigo mesma: "tá vendo, daniela, tá vendo? você virou cética! Porra, é legal falar com a mãe terra, dar abraços e dizer "eu te amo". Não é?"
Mas daí pensei no contexto: abre aí a porta do teatro e vamos chamar um mendigo pra abraçar e dizer eu te amo, vai. Vamos chamar todo mundo - o cara que te pentelha todo dia no trabalho, o cara que tá vendendo pipoca na frente do teatro, o cara que te dá repulsa ou medo. E vamos continuar dizendo eu te amo depois que acabar essa pseudopalestra, sem precisar ninguém mandar, naquela hora em que a gente tá cansado, naquela hora em que parece que o mundo é feio.
E a mulher se achava a azeitona da empadinha, conectada com as energias sutis do universo. Ela limpa o cu com as energias sutis do universo quando acaba o papel higiênico do banheiro dela? O problema não é limpar o cu com papel higiênico, o problema é achar que limpar o cu com papel higiênico exclui estar conectado com as energias do universo. O problema é achar que OU se está conectado com as energias do universo OU se anda na rua -se faz feijão na panela de pressão- se lava roupa-se grita pro filho não chutar a bola na vidraça de casa...Ou uma coisa, ou outra. Ou se é transcendental ou se é um burrão.
Isso pra mim é só onda pra vender mais incenso e cds new age.
Taí, minha vivência ananaíra me deixou cética.

2 de mai. de 2007

conheci dois gatos fofos. um é branco e se chama Sal. a outra é preta e esqueci o nome, mas ela é praticamente um cachorro - ela procura carinho, lambe o dedão do seu pé e despenca no chão do seu lado, de barriga pra cima, esperando cafuné.
dizem que os bichos tem um pouco do humor do dono. hummmm...
nunca tive nem gatos nem cachorros. os bichos que tive foram: um casal de peixes cor de laranja que se suicidaram pulando do aquário direto pro tapete da sala; um casal de periquitos que viviam se bicando e brigavam até sangrarem - foram dados pra outra pessoa, depois de muito barulho.
mas agora queria ter um gato. talvez se eu tivesse um... talvez ele roesse unha ou fosse amigo de um cobertor, não sei, mas a convivência comigo o deixaria estranho de alguma forma. mas seria bem amado o bichinho. o problema é que fico muito tempo fora e teria que ser um gato com muita estabilidade emocional.
mas seria bom. uma companhia além das palavras. tô sacando que não tenho me arranjado bem com palavras ultimamente. não tenho conseguido me comunicar do jeito que quero com elas. a música tem me traduzido melhor - não toco nadinha, mas me aproprio de músicas alheias que ouço.
taí, mulher de poucas palavras, ouvindo música e convivendo com gatos - o estereótipo da solitária.
hoje notei que estava usando uma meia furada e que o dedão do meu pé é amarelado. que medo. vou jogar fora a meia.
e se tiver um gato, ele vai é ser boêmio, viver perambulando por aí e emitir miados orgásmicos todas as noites. quando ele quiser, vai poder aparecer pra um lanchinho.
então fica assim.