15 de jan. de 2009

Demoliam tudo. A casa já tinha virado entulho, o chão de terra estava revirado.
Lá aonde eu tinha pisado, caminhos traçados inúmeras vezes no jardim antes cuidado.
Só vi homens trabalhando, tiravam da terra os últimos detritos. Algo ia ser construído ali. Tudo ia virar definitivamente passado e aquilo me doeu. Paisagem na memória que não calava no peito.
Mas os homens me olharam e deixaram que eu me despedisse. O coreto se desenhou de novo: pegaram algumas partes da treliça de madeira e colocaram-nas sobre o círculo de cimento que ainda restava no chão. Eles deixaram que eu me despedisse. Eu pedi: "posso dançar, como dançava aqui antes?"
Os homens se mantinham ali, me guardavam. Eu frágil, eles doces e tristes como eu. Liguei a música nos meus ouvidos e dancei. Girei contando a valsa e senti a brisa da tarde, fresca como eu quando menina. Girei, o vento girava em mim. Melancolia alegre. Teria aquilo pra mim, pra sempre. Percebi de novo os homens, que aguardavam pacientes. Então, deixei que eles trabalhassem e saí dali. As treliças viraram entulho e as picaretas quebraram o círculo de cimento.
Essa foi a despedida.
Ainda ouço a música.

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